quinta-feira, 27 de fevereiro de 2020

"O esquecimento é um insulto histórico"


"O esquecimento é um insulto histórico"


   Esta foi uma visita com muito tempo de preparação e de amadurecimento. Era há muito desejada pelo G.

   Conscientemente, avaliámos prós e contras, fizémos uma visita prévia, explicámos, demos livros a ler, assistimos juntos a filmes, séries e documentários, ponderámos se o A. também estaria preparado. E quando achámos que era chegada a hora, a tão desejada visita a Auschwitz-Birkenau aconteceu.
   A manhã estava fria, muito fria, cinzenta e até meio sombria. De uma forma respeitosa, atentos e circunspectos, os nossos rapazes seguiram o caminho em silêncio, enquanto a nossa Educadora, com a sua voz pausada e suave, ía relatando todas as atrocidades cometidas no Campo de Concentração e Extermínio de Auschwitz-Birkenau. Viram fotografias, rostos sofridos de muitos prisioneiros, montras repletas de cabelos, montanhas de sapatos, malas, óculos, próteses, loiças... Sem um único vacilo. E sempre em silêncio (quem os conhece sabe que é muito pouco comum...)
   No final, uma tristeza profunda estampada nos seus rostos, muitas questões e uma imensa incompreensão pelo mal que um ser humano pôde fazer a outro ser humano, apenas pelo «crime» deste ser judeu, ou cigano, ou comunista ou homossexual, ou qualquer outra identidade que não estivesse de acordo com os ideais de "quem mandava".
   Hoje, já no aconchego da nossa casa, reflito em todas as emoções vividas nos últimos dias. E penso em como a cultura da lembrança ganha cada vez mais importância nos tempos conturbados e perigosos que vivemos. E se esta imersão histórica (desconfortável e dolorosa, é certo mas, sem dúvida, transformadora) servir para os tornar seres mais tolerantes, então já terá valido a pena!


Apenas um aparte: chamei Educadora à nossa "guia" porque em Auschwitz é assim que são chamados, já que estão ali para ensinar uma lição de História. A mais dura de todas...




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